o caminho
é um espaço
que nos leva a outros lados

ele promete e potencia

eu não quero ficar em lado nenhum, caminho
o que eu quero é andar em ti

ir ao mar em dezembro


friorenta eu sou até em agosto
e tal como no verão
´
custou um bocadinho a entrar
mas lá dentro estava-se bem bem
´
nunca tinha tomado um banho tão perto do meu aniversário
´
e o melhor foi que quando saímos de casa
levei uma camisola porque estava fresquinho
nunca imaginando o que o dia ainda tinha para dar

responsabilidade


o cinema ensinou muita coisa boa
a beijar, por exemplo.
mas também ensinou muita coisa má
a fumar por exemplo.


vantagens que o cinema trouxe até nós
conhecemos muitas

eis algumas coisas para as quais o cinema contribuiu e que seria bom que o cinema moderno tentasse inverter:

  • o apreço pela espuma, coisa que nada lava e tudo polui
  • o apreço pela decoração, que é uma coisa que fica bem nos filmes mas mal na casa das pessoas. uma casa decorada significa pouca vivência dela e muito dinheiro e tempo gasto apenas em aparências. e já se sabe que aparências não garantem felicidade. alguém tem que mostrar isto às pessoas. as novelas fazem-no pela negativa, o cinema devia fazer pela positiva.
  • o apreço pelas pessoas bonitas. quem já decidiu passar o resto dos dias ao lado de uma pessoa bonita sabe do que estou a falar. e os outros também sabem do que estou a falar. por isso se todos sabemos do que estamos a falar......

no fundo só se trata do cinema mudar a sua atitude no que respeita às aparências, já que o cinema é ele próprio uma aparência em si mesmo. fiquemo-nos por essa, e usemo-la, porque nós sabemos que as aparências impressionam. Oh se...

eU



sermos nós próprios nem sempre é fácil
mas parecermos nós próprios por vezes é ainda mais difícil
e contudo
para isso
basta existir.

então porque é que...?
nada, deixa.

histórias da minha vida (1)


















Verifico com gáudio que, aos 23 anos, já reúno no meu acervo um considerável número de histórias que dão que pensar. Que a mim me dão que pensar. Quero contá-las.

Esta passou-se em Bordéus (algumas das minhas histórias são passadas em lugares longínquos).

Eu e uma amiga minha dinamarquesa (mais internacionalizações...) passámos uma semana de férias entre duas semanas de trabalho árduo nas vindimas. Foi uma semana agradável em que não tivémos que nos esforçar, tinhamos um apartamento à nossa disposição - emprestado - e dinheiro na carteira ganho da forma mais saborosa - trabalhando com suor.

Tentámos visitar museus mas encontrámos uma loja em liquidação completamente total - nem eu nem ela gostamos de gastar muito dinheiro em roupa, mas como qualquer outra rapariga até gostamos de ir às compras. Entrámos e andámos por lá a ver coisas, cada uma para seu lado e logo a seguir encaminhámo-nos uma para a outra a rir:
- Olha estes calções custam... 30cts!
- E esta camisola custa 70cts!!
Uma loucura. Havia montões de roupas e montões de mulheres.

Comprámos várias coisas mas isso não interessa para nada. Nada do que eu contei até agora interessa para alguma coisa. O que conta para alguma coisa é o que eu vou contar agora:

De entre as mulheres que compravam havia várias indianas. De entre as roupas à venda havia uma secção de vestidos de noiva. Vimos mulheres indianas a experimentar vestidos de noiva em liquidação total e a comprá-los por 20euros. ISSO A NÓS FEZ-NOS MUITA CONFUSÃO.

Como é que a duas raparigas que não ligam assim muito a roupas nem, penso eu, a casamento de sonho com vestido feito à medida e que custam várias centenas de euros, nos faz impressão uma cena daquelas? Na altura perguntei-me. Agora respondo-me.

O que faz confusão é a misturada. Indianas a vestir vestidos de casamento de estilo ocidental mas comprados em saldo com o tamanho disponível, só porque são do estilo que elas sonhavam ter e que para nós ocidentais verdadeiras não só são feios como o facto de serem adquiridos assim ainda lhes retira o último resquício de encanto. Para nós está tudo trocado. Para elas é um sonho ao alcance das suas carteiras. Quando nós sabemos que na Índia há casamentos verdadeiramente de sonho.

É que isto da trocas interculturais é mesmo lindo. Andamos mas é todos apaixonados uns pelos outros, ocidente pelo oriente e o oriente pelo ocidente. Mas tal como todos os apaixonados somos muito toscos e muito trapalhões nesta nossa aproximação. O fascínio é grande.

(.S')

















sabiam que para ir para a esquerda, às vezes é preciso ir muito para a direita primeiro?
sabiam que a melhor maneira de parar alguma coisa é abusar dela primeiro?
esta e outras coisas são sabidas por algumas sabedorias, nomeadamente chinesas.
elas é que nos ensinaram que se aproveita a energia do golpe do adversário para nos defendermos dele.

podemos usar isto em tudo da nossa vida, desde as relações humanas, à gestão da nossa saúde, vícios, manias, intenções etc.

tenho 3 histórias contadas por uma grande amiga minha de infância que na minha memória, com o passar dos tempos, se transformaram em clássicos. acho que ela não lê o meu blog mas se ler, saberá a quem me refiro. estas 3 histórias ficaram-me de entre as 1OOO000oooººº... histórias que se ouvem na infância. na verdade são muito simples e à primeira vista não possuem nada de especial. mas o que é certo é que recorrentemente me lembro delas e a propósito das mais variadas coisas. pode ser que ainda conte aqui as outras 2. mas agora fico-me por esta.

Ela adorava tremoços. Era doida por eles. A mãe dizia-lhe que ela não devia comer tantos. Mas ela continuava sempre a querer comer muitos tremoços. Um dia conseguiu convencer a mãe a comprar uma saquilada deles. Comeu comeu comeu até não poder mais. Enjoou e desde aí nunca mais comeu nem um
tremoço.

Match me if you can














1.How much can you know about yourself if you've never been in a fight?
2.There are no little secrets.
3.Everyone wants to be found.
4.71% of the Earth's surface is covered by water. That's a lot of space to find one fish.
5.Part of every woman is a mother/actress/saint/sinner. And part of every man is a woman.
6.Here comes the bride.
7.A woman's heart is a deep ocean of secrets.
8.One person can change your life forever.
9.Whoever saves one life, saves the world entire.
10.The tunnel led Chihiro to a mysterious town
----------------------------------------------------
a.Schindler's list
b.Lost in translation
c.Fight Club
d.A viagem de Chihiro
e.O fabuloso destino de Amélie Poulin
d.Kill Bill
e.Match Point
f.Titanic
g.Todo sobre mi madre
h.Finding nemo

Heaven is What























Heaven is what I cannot reach!
The apple on the tree,
Provided it do hopeless hang,
That "heaven" is, to me.

The color on the cruising cloud,
The interdicted ground
Behind the hill, the house behind, --
There Paradise is found!
emily dickinson
desenho de jorge queiroz

desejo

olá

eu tenho a resposta para uma pergunta que muita gente se faz ao longo da vida.
queria partilhá-la com todos.
há quem se pergunte por que razão o ser humano passa a vida a desejar aquilo que não tem
e apesar de ir obtendo aquilo que desejava, ele continua a desejar mais.

bom, a razão é simples:
desejar é um verbo que se aplica apenas àquilo que não se tem.
desejar algo que se tem não é desejar, é gostar ou amar.
ora portanto, a desejar alguma coisa, só pode ser o que não se tem.

uma pessoa podia deixar de desejar
mas isso seria uma das duas:
atingir o tao
ou atingir a apatia

a primeira é desejável mas difícil
a segunda também é difícil mas de todo indesejável.

por isso... é na boa isso do desejar sempre o que não se tem... desde que seja com um sorriso nos lábios e outro no peito

china

que dizer sobre a CHINA?

o melhor é não dizer nada.
ainda está aqui dentro
quando ela sair daqui logo digo. tá?

sombra eléctrica




dian - ying
eléctrico - sombra

é como se diz filme em chinês

amarelinhos


amanhã saímos de casa
em direcção ao oriente
porque queremos chegar à China na segunda-feira.
ainda não acreditamos muito,
é como dizer -vou à lua.
é mais ou menos isso.

dzzzzzzzzzzzzah!



fímbria deslizante para o infinito
em reflexos metálicos e húmidos
a calmaria sustém-nos
bem como a tormenta

não há como a água para lavar
e lavar é espalhar a alma por gotas e poeiras





} fímbria é muito poético não é? mas febra não.

to Mr. President Barack Obama



Governing a large country is like frying small fish.
Too much poking spoils the meat.

When the * is used to govern the world
then evil will lose its power to harm the people.
Not that evil will no longer exist,
but only because it has lost its power.
Just as evil can lose its ability to harm,
the Master shuns the use of violence.
If you give evil nothing to oppose,
then virtue will return by itself.

*tao

translation of the Tao Te Ching of Lao Tzu by j.h.mcdonald, 1996

pequenas conversas II


-man man man man man
-mamã?
-...
-mamã! diz outra vez: mamã!
-...
-mamã!
-hmmmmmm a
- (sorriso)... mamã!
-....

(...)

-man man man man man man

amigos e cagarros


eu gostava que todos os meus amigos viessem ler com regularidade o meu blog
também gostava que o comentassem muito
faço-o com esse ideal

mas o que eu gostava mesmo era que todos os meus amigos tivessem um blog
que eu pudesse ver e ler
e assim senti-los melhor e aqui mais perto.

é que... as fotos do hi5 e do facebook e tal são só fotos - expressões faciais e/ou corporais
e nos blogs eu poderia ter contacto com expressões espirituais, sentimentais, intimistas, críticas, etc

gosto muito dos meus amigos e estou aqui no meio do atlântico
onde eles não me vêm bater à porta da cozinha
como fazem os cagarros.

procurem nas vossas costas


garrafinha garrafinha
na crista da espuma
salta pocinha
por enquanto és só uma
.
outras seguirão
por esse mar afora
do tomás, do julião
e também da aurora

Estar Atento

Andar com a cabeça levantada.
Há notícias no vento e na luz
Informações nas esquinas
Ideias se revelam nos voos das aves

Dois sorrisos de velhotas
Um reflexo na água onde mergulha o caranguejo
O motor de um avião ao longe
Uma bicada de ave perdida na porta da cozinha

Pedras que absorvem água
Pedras que boiam
Vulcões adormecidos
Barcos com gambiarras festivas no escuro

Riscos de chuva à frente da árvore
Lagartixas de rabo cortado que são mais ariscas
Cães que uivam às ambulâncias
Malucos que riem nos caixotes do lixo

é maravilhoso
estar atento.

começou o inverno ontem em todo o hemisfério norte


as estações não começam nas datas dos solstícios nem dos equinócios
nem sequer há 4 estações como consta nos manuais humanos
o tempo meteorológico vagueia e transforma-se a seu bel-prazer
um pouco mais quente e calmo numas alturas
mais tormentoso e frio noutras


a única divisão eficaz entre o verão e o inverno é a mudança da HORA. e ontem foi o primeiro dia de inverno porque foi o 1º dia em que as pessoas saíram dos seus trabalhos de noite.
foi o 1º dia em que era de noite e ainda havia lojas abertas.


é agora que se começa a farejar o........................................ natal

pequenas conversas I


- bá, diz bá
- prrr
-bá, diz bá. bá!
- ah
- (sorriso) bá, diz bá. bá... bá...
-........ âoh .

poesia


a poesia não é uma arte.
a literatura é uma arte.
a poesia e a arte são uma e a mesma coisa.

adulto só fala merda



gosto desta expressão brasileira. "x só fala merda"
dá-me vontade de rir
expressões é, aliás, com os brasileiros.
talvez o brasileiro adulto não fale só merda.
mas os adultos falam de
o que fizeram
como fizeram
o que disseram quando fizeram
o que os outros responderam
o que compraram
o que querem comprar
o que os outros compraram
futebol
política
economia
doenças
moda
saldos
promoções
enfim: só merda.
as crianças falam do que calha. pode ser de coisas
descobertas
inventadas
esquisitas
confusas
divertidas
de meter medo
ou até de merda.
agora merda é que não, aliás, nunca falam de nada.
eu já falo de muita merda. já tenho 23 anos. mas ainda falo de outras coisas. e tu?
a arte não é merda. mas os financiamentos são. tudo o que meta gente de gravata é merda.

bem aventurados



Ninguém quer ficar maluco.
Mas eles são as pessoas que mais se riem sozinhas.
E rir sozinho é bom.

ensinamento animal


não te coles a nenhuma aparência
mas sê sensível ao que te rodeia.
Chamaeleo Calyptratus

li este ensinamento nos olhos deste animal mas gostava ainda de acrescentar algumas palavras minhas: a paisagem é tudo. A paisagem nunca é o resto. E então quando dizem "e o resto é paisagem" é que não faz mesmo sentido nenhum.

boa energia



uma é explosiva barulhenta perigosa
a outra é quase silenciosa quieta e inócua

porque é que ainda há tantas nuclearices?
as renováveis são "para mariquinhas"?

poema das moscas


enquanto a mosca zumbe
a tensão da minha sensatez
é mafiosamente dedilhada

Título do Post: A VIDA

Descobri que ninguém é melhor do que ninguém por aquilo que consegue fazer. Para muitos isto não é novidade, mas para mim, embora já tivesse formulado este pensamento, só há alguns meses é que eu senti que isso é mesmo verdade. Nem o Mozart é melhor do que o Toy.

Sentença esquisita, esta última. Obrigo-me a explicá-la:

Não há tempo para tudo. Não há tempo para sermos pais e trabalhadores e donos de casa e estudar e ainda por cima fazer isso tudo bem feito. E se por acaso houver tempo para isso não haverá tempo para mais nada. E ser melhor não é deixar de relaxar, de descansar, de ter momentos de lazer.

Na vida de adultos o que faz de nós o que somos é aquilo em que gastamos o nosso tempo. Já que em crianças gastávamos o tempo todo a viver (fazer coisas sem nome, acções sem verbo: era tudo brincar e brincar é viver). Em adultos, tudo o que fazemos tem nome: trabalhamos, estudamos, passeamos, limpamos, descansamos, divertimo-nos, lemos... etc). O que faz de nós o que somos são estes verbozinhos. Se não fazemos muitos verbozinhos somos preguiçosos, se fizermos muitos, somos activos, se só trabalharmos e lermos jornais, somos sérios, se só nos divertimos e passeamos somos vadios, etc.

Há duas coisas que nos impelem para estes verbozinhos: o gosto e a obrigação. O gosto não preciso de explicá-lo e a obrigação pode ter várias origens, mas normalmente são de sobrevivência: pão, saúde/higiene e aceitação social. Julgo que os que podem gastar mais tempo naquilo que gostam são mais talentosos nisso do que os outros. E á tão válido ser talentoso na música como noutra coisa qualquer*. Mas como é que se pode achar que alguém é mais talentoso do que outro alguém se por acaso este segundo não tem hipóteses de ter tempo para aquilo de que gosta e o primeiro tem dinheiro para pagar a alguém que faça por si aquilo que ele não gosta, e assim ter tempo para fazer o que gosta? Não é o tempo que é dinheiro, é o dinheiro que é tempo.

* Vamos agora ao asterisco, porque eu ostensivamente ignorei aqui todas as pessoas que gostam de gastar o tempo em prejudicar outras pessoas. Também ignorei que há pessoas que fazem coisas para os outros, e por isso são mais amadas, claro. Só que serem mais amadas não quer dizer que tenham mais valor.

O Mozart gostava de música. Ele brincava na música, a música era tudo para ele - vivia e sobrevivia dela. O Toy também gosta de música, não duvido, mas gosta mais de outras coisas, e isso vê-se logo. É claro que eu prefiro a música do Mozart, que é uma música que foi feita com toda a alma. O talento é a entrega e cada ser humano se entrega àquilo que escolhe.

Para fazer bem as suas escolhas é preciso, acima de tudo, estar atento a si próprio. E ao lugar que os outros têm dentro de si próprio.

sobre fazer cinema


Não quero para aqui dar lições sobre fazer cinema, porque em primeiro lugar não o sei e em segundo lugar se o soubesse não sabia como o ensinar e em terceiro lugar mesmo que até isso conseguisse o mais provável é que ninguém aprendesse. Não por algum de nós ser burro, mas porque as coisas boas raramente são passíveis de ser ensinadas. Por isso queria só lembrar uma coisa, pois estou certa quem quem se lembrar sempre daquilo que eu vou aqui dizer já se sentirá mais amparado nas suas escolhas...

O cinema é ter numa sala um grupo de pessoas - e ainda que seja só uma - sentadas em cadeiras, na escuridão, com todos os seus sentidos postos no filme. Não, o cinema não é design, que encaminha as atenções das pessoas para coisas mais ou menos úteis, nem fotografia impressa numa revista, nem quadro que se veja em pé numa exposição mal iluminada, nem livro que se leia na diagonal, ou desfolhando rapidamente as páginas entre os dedos. O cinema também não é filme que se veja na televisão, entre uma lata de coca-cola, um xixi e um telefonema. O cinema também não é um DVD que se compre ou se alugue e se tenha problemas com o menu, ou com as colunas, ou com a TV ou com o formato...

O cinema é ter a gente por algum tempo, totalmente entregue ao teu filme.

little life in colors


são girinhas não são? e podem ver todas em grande aqui neste álbum do flickr.

o Caos e o Cosmos

ontem, durante a minha hora de televisão semanal
tive uma experiência que se inseria perfeitamente no blog - duplas
mas como a quero explicar um bocadinho melhor... cá vai


eram 22h, na rtp.n e na sic.n estavam a "dar-lhe" na enorme crise que acertou mesmo em cheio no nosso "pequeno" planeta
a crise económica, com as bolsas a cairem pelo mundo inteiro (felizmente ainda não houve feridos)

depoimentos de pessoas muito importantes
todos com cara de caso, incluindo os pivots
fartavam-se de mostrar gráficos e indices e percentagens
as imagens que iam entretendo o espectador
cofres de bancos americanos até escritórios de grandes edificios e indices e mais números

eu por ali fiquei
entre um canal e o outro
a entrar no mundo, a tentar perceber o porquê da crise
e quando já estava mesmo cheio de informação

mudei para o odisseia

um rapaz com ar de ser humano, mergulhava ao largo de uma ilha
nadava com as tartarugas, enormes
apanhou uma, trouxe-a para terra no seu barquinho
foi até ao interior da ilha onde a trocou por um porco












Ureparapara in the Banks Islands

fresquinhas do mercado!

duas senhoras encontraram-se há 15 minutos à minha frente no mercado da horta
tinham os seus setenta anos...

uma delas, cabelos brancos bem penteados e baton vermelho diz à outra, mal a vê (mais gordinha, de óculos e caracóis cinzentos):
-esta noite sonhei que estava mais umas do nosso tempo numa festa num género de teatro fayalense. e também estavas lá tu!
-ai sim? todas nos teatros?
-não, tu estavas muito zangada por causa de não sei quê...

não pude ouvir mais...

as velhinhas - vi mais para além destas, por isso sei do que estou a falar - nesta manhã cinzenta estavam todas muito bonitas. as roupas delas têm texturas e padrões que ficam lindamente com estes dias.

coisas que se dizem

cada povo tem as suas expressões, que são influenciadas pelo modo de vida desse povo e que por meu lado também acredito que influenciem o modo de vida das pessoas

aqui na ilha do faial
as pessoas tratam-te por tu
naturalmente sem problemas
adoro isso
quem me dera fazê-lo sem um nozinho na garganta
hei-de conseguir

no continente diz-se "estou um bocadinho cansada"
aqui não
aqui diz-se "estou uma coisinha cansada"
"estou uma coisinha maldisposta", "esse tomate ainda está uma coisinha verde"
não é giro? gosto tanto...

"é forte maluco" - é muito maluco
"ela tem forte vontade" - ela tem muita vontade
"dei forte pancada com este braço" - dei uma grande pancada com este braço

e esta é muito engraçada: quando passeio com o Julião nas ruas da cidade e ele está a dormir algumas pessoas comentam: "tadinho, tá-se consolando!" :) acho que está é uma verdadeira expressão idiomática porque não há propriamente "tradução" é assim: está-se consolando. e está!


Globalização


Eles foram buscar areia a Marrocos
E na Madeira Eles construiram esta praia
.
.
Eles legalizaram todos
todos estes imigrantes grãos de areia
todos fora daqui! Vão pá vossa terra!
.
Os Cubos de betão podem ficar porque são muito lindos e direitinhos
.
_____________
Eles legalizam tudo
Eles legalizam tudo
Eles legalizam tudo
e não deixam nada
_____________
Eles proibem tudo
Eles proibem tudo
Eles proibem tudo
e não deixam nada
_________________
Eles obrigam-nos a tudo
Eles obrigam-nos a tudo
Eles obrigam-nos a tudo
e não deixam nada
.
...
.
Mais facil será satisfazerem-nos todos os Natais
Quando todos os lugares do mundo forem iguais
Poderemos ficar em casa, finalmente
a consumir descansadamente

Quando se anda sozinho na praia pensa-se

porque é que será que muitas vezes, quando estamos sozinhos, nos sentimos e nos comportamos como se estivéssemos a ser observados por um número considerável -mas apesar de tudo impossível de precisar- de olhos?

Quando se anda de bicicleta pensa-se

que muitos problemas políticos e não só
são consequência da ignorância, ou pelo menos da indiferença pelos seguintes factos

que as massas são o resultado da soma das individualidades
e que em toda a individualidade pesa a força das massas

extravasar

Há aqui na Horta, perto de nossa casa, uma casinha de um senhor. Sempre que por lá se passa podemos ouvir a missa em altos gritos, ou o Quim Barreiros, ou a Júlia Pinheiro ou qualquer outra coisa que nem sempre é bom ouvir em altos gritos. O volume do som contrasta com as dimensões da casa. Mínima, e com a porta aberta numa óbvia tentativa de respirar. Acredito que a gritaria não seja por o senhor ser surdo mas sim por essa necessidade de extravasar as paredes da sua casinha. Que importa se as pessoas da rua estão interessadas em ouvir... o que importa é sair, sair projectado daqui, entornar-mo-nos daqui para fora. Não é um senhor jovem que possa sair correndo até à praia e mergulhar. É uma forma diferente de o fazer, esta.

Assim os carrinhos que no continente se chamam mata-velhos ou papa-reformas abundam aqui, assapam pela marginal, muito quitados e com o tum-ts-tum a bater tão rápido quanto o seu coraçãozinho de carrinho pequenininho.

Engraçado não é? Acho que deve ser por a ilha ser pequenina e por não conseguirem pôr a caldeira a cantar o Hino dos Açores ao atlântico inteiro... cada um à sua escala!!

reconheço logo existe














Sei quando as pessoas querem alguma coisa

É quando vejo na sua expressão aquilo que sinto quando quero alguma coisa
Sei quando os animais querem alguma coisa
É quando vejo nas suas expressões aquilo que vejo nas pessoas quando querem alguma coisa
Sei quando as plantas querem alguma coisa
É quando vejo nas suas expressões o mesmo vigor que vejo nos outros seres com vontade

Mas muitas vezes não consigo perceber a vontade dos minerais
ou o que sentem eles
Porque não reconheço neles aquilo que reconheço nos outros
Não há dúvida de que são diferentes
Ainda assim há aquelas vezes em que os percebo tão bem
que reconheço que eles sentem muito mais do que aquilo que eu posso perceber

Hei-de estar mais atenta
É que o que eu mais gosto mesmo neste mundo é de expressões.

Sobre os comunistas, revoluções e outras ilusões.

Se o povo não se revolta é porque não está revoltado.Se o povo não está revoltado é porque não está descontente.Não é bom sinal o povo não estar descontente?Para os comunistas não. Para os comunistas, um povo que não se revolta é um povo oprimido (na melhor das hipóteses), ou estúpido (e esta ainda não é a pior hipótese).Para os comunistas a revolução parece ser o fim em si mesmo. Nas suas cabeças pintam a tinta vermelha eternos cenários de gritaria e punhos estendidos, estandartes, canções, marchas e megafones. O pós-revolução será sempre, para um revolucionário, uma desilusão. Seja qual for o resultado que ela origine, será um resultado pós-coital de sabor amargo.

E o único refúgio é continuar a pensar naquela profetizada revolução, a única, a verdadeira, a libertadora. E até lá (até à morte) é ir dando o gosto ao dedo fazendo umas greves sindicais, cujos manifestantes foram levados de autocarro até Lisboa e que no mesmo dia voltam de autocarro para as suas casinhas. Porque ela foi profetizada, ela foi profetizada... a luta continua, o sonho continua...

Para os judeus sempre houve a profecia do Messias, o salvador. Quando Jesus apareceu, houve quem achasse que era ele e outros que preferiram continuar a sonhar. Os primeiros passaram a ser cristãos, os outros continuaram a ser judeus. A quantidade de sangue que jorrou dessa divergência deixa qualquer um sem palavras. Já viram a força que tem um sonho? E todas as cabeças têm os seus.

Pela sua potência, os sonhos deviam ser sonhados mas pouco alardeados. São preciosos, a vida vive deles... mas eles não são nem podem ser a vida.As alterações sociais (e quaisquer outras alterações) que se produzem ao ritmo e ao som do cantar dos pássaros são bem mais seguras e aconchegantes do que as que são feitas a som e ritmo de megafone. Mas este é o meu sonho e talvez eu devesse calá-lo.

A História é Controversa

e disso ninguém tem dúvidas

aliás, qualquer coisa com mais de um mês, por se começar a diluir na memória, torna-se rápidamente controverso e motivo de discórdias. e não estou a ter em conta os historiadores (escritores da história) terem já a memória toda baralhada pelos cabelos brancos - infelizmente a história não é escrita pelas crianças, nem pelos leões

porque é que todos recordamos os mesmos personagens do passado?
porque é que há apenas duas visões? os bons e os maus, os maus e os bons?

para mim a culpa é dos livros
porque o que é lido é tido como certo, e o que é decorado (como todos o fizémos por disciplina em história) é tido como sabido

Venho por este meio propor que a História seja escrita por imagens

filmadas ou desenhadas, fotografadas ou recortadas
havendo várias visões, haverá uma realidade!
talvez um pouco cubista...
e por isso a controversia pode finalmente aumentar e tornar-se interessante

estar atento



uma pessoa nunca se compreende totalmente a si própria
uma pessoa nunca compreende nada totalmente
por isso é confortante quando há coisas sobre nós que temos a certeza

eis as minhas:
-sono e período fazem de mim a pessoa mais miserável do mundo
-atinjo a plenitude e a alegria completa quando há calma e conforto
-se estou a ter uns pensamentos e no meu campo de visão aparece um pássaro a voar, sinto formigas, uma violenta emoção no estômago
pensava que tinha mais mas agora pensando bem não são coisas assim tão certas com tanta certeza.

Mas estas que aqui ficam são verdades, puras e cristalinas verdades.

olá pedro!

Olhem que sabe bem
e mais que bem
encontrar um blog de um amigo
e gostar-se tanto que se vem rever o nosso
para perceber o que é que estava mal
e com a inspiração recebida tentar melhorá-lo!

http://o-calor-e-humano.blogspot.com/

eu devia poder ler uma expressão assim
vinda de todas as pessoas que conheço!

A Galeria de Van Gogh


Há 6 ou 7 anos
no autocarro do Redondo para Évora, onde todos os dias de manhã tinha que viajar com a Rádio Renascença, ouvi, numa rubrica sobre páginas da internet, a sugestão do seguinte endereço:


talvez por ser do Van Gogh, talvez pela simplicidade do título da página, talvez por o ter ouvido e não lido, talvez por ter sido numa altura em que havia menos páginas...

não só me lembrei dele para o ir ver à net
como nunca mais o esqueci
é uma página infindável, boa para quem gosta de Van Gogh e de encontrar coisas "novas" dele.

lá há tudo


quem dera que houvesse uma assim do Fernando Pessoa...

o bom e o melhor



bom é fazer um jardim
melhor é passear nele

bom é ter uma biblioteca
melhor é ler livros

bom é ter uma boa casa
melhor é estar lá dentro

bom é lavar roupa
melhor é vesti-la

bom é ter um filho
melhor é brincar com ele

bom é apanhar figos
melhor é comê-los

bom é ter uma vida
mas melhor
melhor é vivê-la

VIVA - O - PICO

(este vem fresquinho, é de hoje)

e quando o espírito se nos ensombra
ou a raiva cresce sem razão
não há como erguer a vista
e o Pico nos acode em salvação

o lirismo copio-o dos livros
as palavras do viver
mas o que mais me impele nisto tudo
é toda esta beleza que me quer morder

"qualidade literária duvidosa mas com conteúdo sentimental aparentemente autêntico"

ter um filho










deixamos de ser adultos outra vez
embora em muita coisa o fiquemos mais

o cinema do cotovelo oeste


Da minha janela tenho vista para a rua toda, desde o cotovelo leste ao cotovelo oeste. A minha janela fica virada a sul, por isso o sol entra-me em casa durante todo o dia. Sinto-me feliz com isso. O homem europeu também andava sempre do lado do sol.
.
Passava para lá de manhãzinha e depois para cá à tardinha. Aos fins-de-semana passava muitas vezes. Parecia gastar os dois dias de descanso entre o cotovelo leste e o cotovelo oeste. Eu não me admirava com isso. No lado oeste da rua, depois do cotovelo, existe o CINEMA. O homem europeu gosta de cinema. Durante a semana trabalha e não pode ver as fitas, mas ao fim-de-semana vê-as todas. Durante o intervalo entre sessões vai sempre a casa, que fica no cotovelo leste. Por isso passa tantas vezes debaixo da minha janela, deixando no ar um fumo seco de cigarro espanhol.
.
É claro que já troquei com ele algumas palavras. Nem sempre é um tipo simpático, mas sempre atento e nunca arrogante. Já houve quem lhe chamasse ignóbil mas nunca o vi ultrapassar os limites da decência.
.
Costumava andar sozinho. Nos finais de tarde dos sábados fazia-se acompanhar no seu passeio por uma rapariga séria, morena e de grandes olhos tristes. Iam à sessão da noite. A rapariga levava o casaco de malha dobrado e pendurado no braço quando iam para o cinema e apenas pousado por cima dos ombros no regresso. Não raras vezes vinham a conversar. Ela não parecia mais animada do que antes, mas podia adivinhar-se que as conversas que mantinham eram sobre o filme.
.
Permaneço horas a fio à janela do meu quarto, porque sou muito preguiçoso e gosto de ver os meus semelhantes.
.
O homem indiano era assaz diferente. Passava sempre de manhã e sempre do lado da sombra. Era alto e magro e vestia uma túnica cor de açafrão que ondulava ao andar e deixava no ar uma mistura de incenso e cravinho. Só há filmes indianos de manhã, aos dias de semana. O homem indiano via-os todos, alguns repetidas vezes. Quando para lá ia acenava-me e perguntava-me sempre num português perfeito: "O senhor engenheiro passou bem?" E eu respondia sempre amavelmente. Muitas pessoas da rua o apelidavam de arruaceiro. Nunca o considerei tal. Tinha até gosto em ser seu vizinho.
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A sua loja era no cotovelo leste, perfumada e colorida, onde atrás do balcão 1000 gavetas guardavam produtos culinários. Três lindas raparigas, suas filhas, sorriam e atendiam. Nunca lá comprei nada senão pimenta, único condimento ainda tolerado pelo meu delicado estômago, num pouco de queijo fresco de perfume branco.
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O homem indiano ficava no cinema a manhã toda e voltava cantando as músicas do filme. Eu sorria para mim mesmo. E perguntava-lhe: "Acabou bem?" E ele geralmente acenava alegremente que sim, mas vezes havia em que dizia apenas "Ai que pena, senhor engenheiro... é a vida!"
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Só que não era a vida, eram os filmes. Mas não fazia mal. A vida do homem europeu e do homem indiano eram os filmes. E a minha era o filme da minha rua.

Canção de como salvei a minha tia Sara de um resfriado nas extremidades

estava a papar
e uma mensagem
caiu do ar
dum personagem
do outro mundo
na minha sopa
caiu no fundo
sujando a roupa
da minha tia
a que por sorte
já nada via
e até à morte
ela nunca soube
que de ensopado
o seu lindo robe
ficou manchado
*
aquela carta
era para mim
dizia "Marta"
com letra assim
para o diferente
com inclinação
não frequente
lá dentro ainda
era mais fina
era tão linda
tão à menina
que eu gostei logo
li-a a correr
e era um jogo
a não perder
*
era um concurso
de outro planeta
tinha um percurso
e uma meta
a inscrição
vinha no fim
com um cupão
só para mim
fui preenchê-lo
para a cozinha
colei um selo
numa cartinha
e enviei
com os meus dados
depois esperei
os resultados
*
um mês depois
já estava farta
abri a carta
aos safanões
tinha vencido
todas as provas
e recebido
uma meias novas
quis ir contar
à minha tia
mas por azar
já não ouvia
apertei-lhe a mão
que estava gelada
mas no coração
não tinha nada
*
ainda vivia
em meu parecer
mas com a mão fria
por resolver
fui ver das meias
as do concurso
e enfiei-lhas
até ao pulso
*
na sua cara
cara de tia
de tia Sara
algo sorria.

Comunicado ao mundo


As pessoas de agora
que dizem que o antes é que era bom
não sabem concerteza que
aquilo que somos hoje
é resultado do que fomos ontem.

Publique-se.

Dúvida



Quando as pessoas dizem "as pessoas isto" ou "as pessoas aquilo", é de nós que estão a falar?

ser "verde"

agora querem alcatifar o mundo de verde?


os ecossistemas
estão em harmonia
porque se adaptam e readaptam
não são esquemas fixos
nem instaurados
*
a uma escala maior
no planeta terra
a harmonia também assenta na eterna mudança
*
os gelos gelam e degelam
mar e a terra avançam um para o outro
as ervas, as rocha, os animais
destróem-se, ajudam-se ou ignoram-se
*
entre eles estamos nós
com as nossas preocupações.
*
a moderna e politicamente correcta preocupação com o planeta
não é mais do que uma egoísta preocupação com a espécie
a espécie humana
*
tão egoísta quanta a necessidade de andar de carro
apesar de saber que polui
tão egoísta quanta a vontade de comer bacalhau
apesar de saber que são poucos
tão egoísta quanto todas as outras vontades
*
e
ao salvar tubarões
matamos salmões
ao salvar salmões
matamos camarões
*
uns valem mais porque são poucos?
outros valem menos porque são mais?
o que é ser ambientalista?

!

o julião é minusculinho.

mínimo

já falta pouco


esta é uma maternidade de estrelas


sardinha no oceano



estou aqui à janela da casa de banho, onde se apanha net de borla que vem do teatro faialense e onde se pode ir fazer xi-xi enquanto a net lenta demora a abrir uma página.


hoje está sol, o que não acontece todos os dias. o gato está feliz e não é o único.

viver aqui não é calustrofóbico nem nada disso. viver aqui é fixe.


dentro da ilha do faial há paisagens muito fantásticas e não arranjo outra palavra para as descrever. gosto mais do interior do que da costa, mas na costa é que se vive. o interior é para se ir lá beber aos poucos.


não há borrego no talho e a salsicharia lisbonense não vende salsichas.


às vezes acordo à noite com o barulho das ondas.


o pico o pico o pico o pico o pico o pico

ai o pico

é deus ali à frente.