extravasar

Há aqui na Horta, perto de nossa casa, uma casinha de um senhor. Sempre que por lá se passa podemos ouvir a missa em altos gritos, ou o Quim Barreiros, ou a Júlia Pinheiro ou qualquer outra coisa que nem sempre é bom ouvir em altos gritos. O volume do som contrasta com as dimensões da casa. Mínima, e com a porta aberta numa óbvia tentativa de respirar. Acredito que a gritaria não seja por o senhor ser surdo mas sim por essa necessidade de extravasar as paredes da sua casinha. Que importa se as pessoas da rua estão interessadas em ouvir... o que importa é sair, sair projectado daqui, entornar-mo-nos daqui para fora. Não é um senhor jovem que possa sair correndo até à praia e mergulhar. É uma forma diferente de o fazer, esta.

Assim os carrinhos que no continente se chamam mata-velhos ou papa-reformas abundam aqui, assapam pela marginal, muito quitados e com o tum-ts-tum a bater tão rápido quanto o seu coraçãozinho de carrinho pequenininho.

Engraçado não é? Acho que deve ser por a ilha ser pequenina e por não conseguirem pôr a caldeira a cantar o Hino dos Açores ao atlântico inteiro... cada um à sua escala!!

reconheço logo existe














Sei quando as pessoas querem alguma coisa

É quando vejo na sua expressão aquilo que sinto quando quero alguma coisa
Sei quando os animais querem alguma coisa
É quando vejo nas suas expressões aquilo que vejo nas pessoas quando querem alguma coisa
Sei quando as plantas querem alguma coisa
É quando vejo nas suas expressões o mesmo vigor que vejo nos outros seres com vontade

Mas muitas vezes não consigo perceber a vontade dos minerais
ou o que sentem eles
Porque não reconheço neles aquilo que reconheço nos outros
Não há dúvida de que são diferentes
Ainda assim há aquelas vezes em que os percebo tão bem
que reconheço que eles sentem muito mais do que aquilo que eu posso perceber

Hei-de estar mais atenta
É que o que eu mais gosto mesmo neste mundo é de expressões.

Sobre os comunistas, revoluções e outras ilusões.

Se o povo não se revolta é porque não está revoltado.Se o povo não está revoltado é porque não está descontente.Não é bom sinal o povo não estar descontente?Para os comunistas não. Para os comunistas, um povo que não se revolta é um povo oprimido (na melhor das hipóteses), ou estúpido (e esta ainda não é a pior hipótese).Para os comunistas a revolução parece ser o fim em si mesmo. Nas suas cabeças pintam a tinta vermelha eternos cenários de gritaria e punhos estendidos, estandartes, canções, marchas e megafones. O pós-revolução será sempre, para um revolucionário, uma desilusão. Seja qual for o resultado que ela origine, será um resultado pós-coital de sabor amargo.

E o único refúgio é continuar a pensar naquela profetizada revolução, a única, a verdadeira, a libertadora. E até lá (até à morte) é ir dando o gosto ao dedo fazendo umas greves sindicais, cujos manifestantes foram levados de autocarro até Lisboa e que no mesmo dia voltam de autocarro para as suas casinhas. Porque ela foi profetizada, ela foi profetizada... a luta continua, o sonho continua...

Para os judeus sempre houve a profecia do Messias, o salvador. Quando Jesus apareceu, houve quem achasse que era ele e outros que preferiram continuar a sonhar. Os primeiros passaram a ser cristãos, os outros continuaram a ser judeus. A quantidade de sangue que jorrou dessa divergência deixa qualquer um sem palavras. Já viram a força que tem um sonho? E todas as cabeças têm os seus.

Pela sua potência, os sonhos deviam ser sonhados mas pouco alardeados. São preciosos, a vida vive deles... mas eles não são nem podem ser a vida.As alterações sociais (e quaisquer outras alterações) que se produzem ao ritmo e ao som do cantar dos pássaros são bem mais seguras e aconchegantes do que as que são feitas a som e ritmo de megafone. Mas este é o meu sonho e talvez eu devesse calá-lo.

A História é Controversa

e disso ninguém tem dúvidas

aliás, qualquer coisa com mais de um mês, por se começar a diluir na memória, torna-se rápidamente controverso e motivo de discórdias. e não estou a ter em conta os historiadores (escritores da história) terem já a memória toda baralhada pelos cabelos brancos - infelizmente a história não é escrita pelas crianças, nem pelos leões

porque é que todos recordamos os mesmos personagens do passado?
porque é que há apenas duas visões? os bons e os maus, os maus e os bons?

para mim a culpa é dos livros
porque o que é lido é tido como certo, e o que é decorado (como todos o fizémos por disciplina em história) é tido como sabido

Venho por este meio propor que a História seja escrita por imagens

filmadas ou desenhadas, fotografadas ou recortadas
havendo várias visões, haverá uma realidade!
talvez um pouco cubista...
e por isso a controversia pode finalmente aumentar e tornar-se interessante

estar atento



uma pessoa nunca se compreende totalmente a si própria
uma pessoa nunca compreende nada totalmente
por isso é confortante quando há coisas sobre nós que temos a certeza

eis as minhas:
-sono e período fazem de mim a pessoa mais miserável do mundo
-atinjo a plenitude e a alegria completa quando há calma e conforto
-se estou a ter uns pensamentos e no meu campo de visão aparece um pássaro a voar, sinto formigas, uma violenta emoção no estômago
pensava que tinha mais mas agora pensando bem não são coisas assim tão certas com tanta certeza.

Mas estas que aqui ficam são verdades, puras e cristalinas verdades.

olá pedro!

Olhem que sabe bem
e mais que bem
encontrar um blog de um amigo
e gostar-se tanto que se vem rever o nosso
para perceber o que é que estava mal
e com a inspiração recebida tentar melhorá-lo!

http://o-calor-e-humano.blogspot.com/

eu devia poder ler uma expressão assim
vinda de todas as pessoas que conheço!

A Galeria de Van Gogh


Há 6 ou 7 anos
no autocarro do Redondo para Évora, onde todos os dias de manhã tinha que viajar com a Rádio Renascença, ouvi, numa rubrica sobre páginas da internet, a sugestão do seguinte endereço:


talvez por ser do Van Gogh, talvez pela simplicidade do título da página, talvez por o ter ouvido e não lido, talvez por ter sido numa altura em que havia menos páginas...

não só me lembrei dele para o ir ver à net
como nunca mais o esqueci
é uma página infindável, boa para quem gosta de Van Gogh e de encontrar coisas "novas" dele.

lá há tudo


quem dera que houvesse uma assim do Fernando Pessoa...