Estar Atento

Andar com a cabeça levantada.
Há notícias no vento e na luz
Informações nas esquinas
Ideias se revelam nos voos das aves

Dois sorrisos de velhotas
Um reflexo na água onde mergulha o caranguejo
O motor de um avião ao longe
Uma bicada de ave perdida na porta da cozinha

Pedras que absorvem água
Pedras que boiam
Vulcões adormecidos
Barcos com gambiarras festivas no escuro

Riscos de chuva à frente da árvore
Lagartixas de rabo cortado que são mais ariscas
Cães que uivam às ambulâncias
Malucos que riem nos caixotes do lixo

é maravilhoso
estar atento.

começou o inverno ontem em todo o hemisfério norte


as estações não começam nas datas dos solstícios nem dos equinócios
nem sequer há 4 estações como consta nos manuais humanos
o tempo meteorológico vagueia e transforma-se a seu bel-prazer
um pouco mais quente e calmo numas alturas
mais tormentoso e frio noutras


a única divisão eficaz entre o verão e o inverno é a mudança da HORA. e ontem foi o primeiro dia de inverno porque foi o 1º dia em que as pessoas saíram dos seus trabalhos de noite.
foi o 1º dia em que era de noite e ainda havia lojas abertas.


é agora que se começa a farejar o........................................ natal

pequenas conversas I


- bá, diz bá
- prrr
-bá, diz bá. bá!
- ah
- (sorriso) bá, diz bá. bá... bá...
-........ âoh .

poesia


a poesia não é uma arte.
a literatura é uma arte.
a poesia e a arte são uma e a mesma coisa.

adulto só fala merda



gosto desta expressão brasileira. "x só fala merda"
dá-me vontade de rir
expressões é, aliás, com os brasileiros.
talvez o brasileiro adulto não fale só merda.
mas os adultos falam de
o que fizeram
como fizeram
o que disseram quando fizeram
o que os outros responderam
o que compraram
o que querem comprar
o que os outros compraram
futebol
política
economia
doenças
moda
saldos
promoções
enfim: só merda.
as crianças falam do que calha. pode ser de coisas
descobertas
inventadas
esquisitas
confusas
divertidas
de meter medo
ou até de merda.
agora merda é que não, aliás, nunca falam de nada.
eu já falo de muita merda. já tenho 23 anos. mas ainda falo de outras coisas. e tu?
a arte não é merda. mas os financiamentos são. tudo o que meta gente de gravata é merda.

bem aventurados



Ninguém quer ficar maluco.
Mas eles são as pessoas que mais se riem sozinhas.
E rir sozinho é bom.

ensinamento animal


não te coles a nenhuma aparência
mas sê sensível ao que te rodeia.
Chamaeleo Calyptratus

li este ensinamento nos olhos deste animal mas gostava ainda de acrescentar algumas palavras minhas: a paisagem é tudo. A paisagem nunca é o resto. E então quando dizem "e o resto é paisagem" é que não faz mesmo sentido nenhum.

boa energia



uma é explosiva barulhenta perigosa
a outra é quase silenciosa quieta e inócua

porque é que ainda há tantas nuclearices?
as renováveis são "para mariquinhas"?

poema das moscas


enquanto a mosca zumbe
a tensão da minha sensatez
é mafiosamente dedilhada

Título do Post: A VIDA

Descobri que ninguém é melhor do que ninguém por aquilo que consegue fazer. Para muitos isto não é novidade, mas para mim, embora já tivesse formulado este pensamento, só há alguns meses é que eu senti que isso é mesmo verdade. Nem o Mozart é melhor do que o Toy.

Sentença esquisita, esta última. Obrigo-me a explicá-la:

Não há tempo para tudo. Não há tempo para sermos pais e trabalhadores e donos de casa e estudar e ainda por cima fazer isso tudo bem feito. E se por acaso houver tempo para isso não haverá tempo para mais nada. E ser melhor não é deixar de relaxar, de descansar, de ter momentos de lazer.

Na vida de adultos o que faz de nós o que somos é aquilo em que gastamos o nosso tempo. Já que em crianças gastávamos o tempo todo a viver (fazer coisas sem nome, acções sem verbo: era tudo brincar e brincar é viver). Em adultos, tudo o que fazemos tem nome: trabalhamos, estudamos, passeamos, limpamos, descansamos, divertimo-nos, lemos... etc). O que faz de nós o que somos são estes verbozinhos. Se não fazemos muitos verbozinhos somos preguiçosos, se fizermos muitos, somos activos, se só trabalharmos e lermos jornais, somos sérios, se só nos divertimos e passeamos somos vadios, etc.

Há duas coisas que nos impelem para estes verbozinhos: o gosto e a obrigação. O gosto não preciso de explicá-lo e a obrigação pode ter várias origens, mas normalmente são de sobrevivência: pão, saúde/higiene e aceitação social. Julgo que os que podem gastar mais tempo naquilo que gostam são mais talentosos nisso do que os outros. E á tão válido ser talentoso na música como noutra coisa qualquer*. Mas como é que se pode achar que alguém é mais talentoso do que outro alguém se por acaso este segundo não tem hipóteses de ter tempo para aquilo de que gosta e o primeiro tem dinheiro para pagar a alguém que faça por si aquilo que ele não gosta, e assim ter tempo para fazer o que gosta? Não é o tempo que é dinheiro, é o dinheiro que é tempo.

* Vamos agora ao asterisco, porque eu ostensivamente ignorei aqui todas as pessoas que gostam de gastar o tempo em prejudicar outras pessoas. Também ignorei que há pessoas que fazem coisas para os outros, e por isso são mais amadas, claro. Só que serem mais amadas não quer dizer que tenham mais valor.

O Mozart gostava de música. Ele brincava na música, a música era tudo para ele - vivia e sobrevivia dela. O Toy também gosta de música, não duvido, mas gosta mais de outras coisas, e isso vê-se logo. É claro que eu prefiro a música do Mozart, que é uma música que foi feita com toda a alma. O talento é a entrega e cada ser humano se entrega àquilo que escolhe.

Para fazer bem as suas escolhas é preciso, acima de tudo, estar atento a si próprio. E ao lugar que os outros têm dentro de si próprio.

sobre fazer cinema


Não quero para aqui dar lições sobre fazer cinema, porque em primeiro lugar não o sei e em segundo lugar se o soubesse não sabia como o ensinar e em terceiro lugar mesmo que até isso conseguisse o mais provável é que ninguém aprendesse. Não por algum de nós ser burro, mas porque as coisas boas raramente são passíveis de ser ensinadas. Por isso queria só lembrar uma coisa, pois estou certa quem quem se lembrar sempre daquilo que eu vou aqui dizer já se sentirá mais amparado nas suas escolhas...

O cinema é ter numa sala um grupo de pessoas - e ainda que seja só uma - sentadas em cadeiras, na escuridão, com todos os seus sentidos postos no filme. Não, o cinema não é design, que encaminha as atenções das pessoas para coisas mais ou menos úteis, nem fotografia impressa numa revista, nem quadro que se veja em pé numa exposição mal iluminada, nem livro que se leia na diagonal, ou desfolhando rapidamente as páginas entre os dedos. O cinema também não é filme que se veja na televisão, entre uma lata de coca-cola, um xixi e um telefonema. O cinema também não é um DVD que se compre ou se alugue e se tenha problemas com o menu, ou com as colunas, ou com a TV ou com o formato...

O cinema é ter a gente por algum tempo, totalmente entregue ao teu filme.

little life in colors


são girinhas não são? e podem ver todas em grande aqui neste álbum do flickr.

o Caos e o Cosmos

ontem, durante a minha hora de televisão semanal
tive uma experiência que se inseria perfeitamente no blog - duplas
mas como a quero explicar um bocadinho melhor... cá vai


eram 22h, na rtp.n e na sic.n estavam a "dar-lhe" na enorme crise que acertou mesmo em cheio no nosso "pequeno" planeta
a crise económica, com as bolsas a cairem pelo mundo inteiro (felizmente ainda não houve feridos)

depoimentos de pessoas muito importantes
todos com cara de caso, incluindo os pivots
fartavam-se de mostrar gráficos e indices e percentagens
as imagens que iam entretendo o espectador
cofres de bancos americanos até escritórios de grandes edificios e indices e mais números

eu por ali fiquei
entre um canal e o outro
a entrar no mundo, a tentar perceber o porquê da crise
e quando já estava mesmo cheio de informação

mudei para o odisseia

um rapaz com ar de ser humano, mergulhava ao largo de uma ilha
nadava com as tartarugas, enormes
apanhou uma, trouxe-a para terra no seu barquinho
foi até ao interior da ilha onde a trocou por um porco












Ureparapara in the Banks Islands

fresquinhas do mercado!

duas senhoras encontraram-se há 15 minutos à minha frente no mercado da horta
tinham os seus setenta anos...

uma delas, cabelos brancos bem penteados e baton vermelho diz à outra, mal a vê (mais gordinha, de óculos e caracóis cinzentos):
-esta noite sonhei que estava mais umas do nosso tempo numa festa num género de teatro fayalense. e também estavas lá tu!
-ai sim? todas nos teatros?
-não, tu estavas muito zangada por causa de não sei quê...

não pude ouvir mais...

as velhinhas - vi mais para além destas, por isso sei do que estou a falar - nesta manhã cinzenta estavam todas muito bonitas. as roupas delas têm texturas e padrões que ficam lindamente com estes dias.

coisas que se dizem

cada povo tem as suas expressões, que são influenciadas pelo modo de vida desse povo e que por meu lado também acredito que influenciem o modo de vida das pessoas

aqui na ilha do faial
as pessoas tratam-te por tu
naturalmente sem problemas
adoro isso
quem me dera fazê-lo sem um nozinho na garganta
hei-de conseguir

no continente diz-se "estou um bocadinho cansada"
aqui não
aqui diz-se "estou uma coisinha cansada"
"estou uma coisinha maldisposta", "esse tomate ainda está uma coisinha verde"
não é giro? gosto tanto...

"é forte maluco" - é muito maluco
"ela tem forte vontade" - ela tem muita vontade
"dei forte pancada com este braço" - dei uma grande pancada com este braço

e esta é muito engraçada: quando passeio com o Julião nas ruas da cidade e ele está a dormir algumas pessoas comentam: "tadinho, tá-se consolando!" :) acho que está é uma verdadeira expressão idiomática porque não há propriamente "tradução" é assim: está-se consolando. e está!


Globalização


Eles foram buscar areia a Marrocos
E na Madeira Eles construiram esta praia
.
.
Eles legalizaram todos
todos estes imigrantes grãos de areia
todos fora daqui! Vão pá vossa terra!
.
Os Cubos de betão podem ficar porque são muito lindos e direitinhos
.
_____________
Eles legalizam tudo
Eles legalizam tudo
Eles legalizam tudo
e não deixam nada
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Eles proibem tudo
Eles proibem tudo
Eles proibem tudo
e não deixam nada
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Eles obrigam-nos a tudo
Eles obrigam-nos a tudo
Eles obrigam-nos a tudo
e não deixam nada
.
...
.
Mais facil será satisfazerem-nos todos os Natais
Quando todos os lugares do mundo forem iguais
Poderemos ficar em casa, finalmente
a consumir descansadamente

Quando se anda sozinho na praia pensa-se

porque é que será que muitas vezes, quando estamos sozinhos, nos sentimos e nos comportamos como se estivéssemos a ser observados por um número considerável -mas apesar de tudo impossível de precisar- de olhos?

Quando se anda de bicicleta pensa-se

que muitos problemas políticos e não só
são consequência da ignorância, ou pelo menos da indiferença pelos seguintes factos

que as massas são o resultado da soma das individualidades
e que em toda a individualidade pesa a força das massas