Descobri que ninguém é melhor do que ninguém por aquilo que consegue fazer. Para muitos isto não é novidade, mas para mim, embora já tivesse formulado este pensamento, só há alguns meses é que eu senti que isso é mesmo verdade. Nem o Mozart é melhor do que o Toy.
Sentença esquisita, esta última. Obrigo-me a explicá-la:
Não há tempo para tudo. Não há tempo para sermos pais e trabalhadores e donos de casa e estudar e ainda por cima fazer isso tudo bem feito. E se por acaso houver tempo para isso não haverá tempo para mais nada. E ser melhor não é deixar de relaxar, de descansar, de ter momentos de lazer.
Na vida de adultos o que faz de nós o que somos é aquilo em que gastamos o nosso tempo. Já que em crianças gastávamos o tempo todo a viver (fazer coisas sem nome, acções sem verbo: era tudo brincar e brincar é viver). Em adultos, tudo o que fazemos tem nome: trabalhamos, estudamos, passeamos, limpamos, descansamos, divertimo-nos, lemos... etc). O que faz de nós o que somos são estes verbozinhos. Se não fazemos muitos verbozinhos somos preguiçosos, se fizermos muitos, somos activos, se só trabalharmos e lermos jornais, somos sérios, se só nos divertimos e passeamos somos vadios, etc.
Há duas coisas que nos impelem para estes verbozinhos: o gosto e a obrigação. O gosto não preciso de explicá-lo e a obrigação pode ter várias origens, mas normalmente são de sobrevivência: pão, saúde/higiene e aceitação social. Julgo que os que podem gastar mais tempo naquilo que gostam são mais talentosos nisso do que os outros. E á tão válido ser talentoso na música como noutra coisa qualquer*. Mas como é que se pode achar que alguém é mais talentoso do que outro alguém se por acaso este segundo não tem hipóteses de ter tempo para aquilo de que gosta e o primeiro tem dinheiro para pagar a alguém que faça por si aquilo que ele não gosta, e assim ter tempo para fazer o que gosta? Não é o tempo que é dinheiro, é o dinheiro que é tempo.
* Vamos agora ao asterisco, porque eu ostensivamente ignorei aqui todas as pessoas que gostam de gastar o tempo em prejudicar outras pessoas. Também ignorei que há pessoas que fazem coisas para os outros, e por isso são mais amadas, claro. Só que serem mais amadas não quer dizer que tenham mais valor.
O Mozart gostava de música. Ele brincava na música, a música era tudo para ele - vivia e sobrevivia dela. O Toy também gosta de música, não duvido, mas gosta mais de outras coisas, e isso vê-se logo. É claro que eu prefiro a música do Mozart, que é uma música que foi feita com toda a alma. O talento é a entrega e cada ser humano se entrega àquilo que escolhe.
Para fazer bem as suas escolhas é preciso, acima de tudo, estar atento a si próprio. E ao lugar que os outros têm dentro de si próprio.
Título do Post: A VIDA
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2 comentários:
Tens toda a razão! Ninguém é melhor que ninguém pelo que consegue fazer. Grande ideia, gostava de ter sido eu a tê-la :P
Mas assim tiveste-a tua para todos nós e isso é bom.
Beijos beijos
palavras sábias
boa sardinha!
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